30 janeiro 2017

Mudamos

Tenho que chegar assoprando a poeira por aqui.

Então, queria contar que já faz um tempinho que migrei pra um endereço pontocom: https://dislexicamente.com/. Por lá a coisa tá mais bonita, layout fino e frequência boa. Tem pelo menos um post por semana.

Ah, e tem também a página no Facebook: https://www.facebook.com/dislexicamente/. Chega mais.

Nos vemos por lá! :)

03 março 2015

Estrada da vida



Quando uma pessoa morre, ela não morre uma vez só. Tem a morte de fato, que é quando a gente encara aquela face inexpressiva dentro de um caixão e entende o que as pessoas falam sobre “sentir um vazio no peito”. É o momento do baque, e a gente cai de cara na realidade de que tudo acaba; e é também o começo de um processo que pode durar todo o resto da nossa vida.


Depois que uma pessoa morre, seguem-se outras mil pequenas mortes. Faz dez anos que meu avô morreu. Era fim de verão, eu havia acabado de entrar na faculdade e deixar a casa dos meus pais. O mundo era um lugar perfeito, até que o telefone tocou e minha mãe, do outro lado da linha, quase não conseguiu terminar a frase: “o vô morreu. pega o ônibus amanhã cedo e vem pra casa”.

Eu não consegui arrumar a mala, e na manhã seguinte saí com a roupa do corpo. Passei frio na rodoviária e fiz uma viagem dolorosa. O mundo não fazia sentido, e naquele dia de vento eu me despedi, agoniada. Era março, mas parecia agosto. Eu não sabia que depois daquele adeus seguiriam-se outras tantas despedidas.

O segundo adeus aconteceu na primeira vez em que eu cheguei no sítio onde ele morava e vi na varanda a cadeira vazia. Depois, vieram outros tantos, cada vez que eu me deparava com uma coisa que nunca mais seria a mesma sem ele.

Hoje, já muitos anos depois e tantas mortes silenciosamente aceitas às vezes com amargura, muitas vezes com ternura, tivemos eu e ele mais uma despedida.

Morreu José Rico, o parceiro do Milionário. José Rico cantava na vitrola da sala daquela casa no sítio onde não há mais a cadeira de tirinhas de plástico verde na varanda.

Um dia, a dupla foi cantar lá na cidade e fomos juntos, eu e meu avô, ver o show. Com essas pequenas mortes que se seguem à morte de fato, vão sumindo aos pouquinhos as feições de quem partiu. Mas eu lembro com detalhes o sorriso dele olhando para o palco, admirando os homens que sempre cantaram na vitrola lá do sítio.

Se existe céu, hoje meu vô está sorrindo por lá. Eu, por aqui, chorei um pouquinho. É que essas mil mortes mexem com a gente. Mas eu estou feliz, como no dia em que fomos ver o show. Espero que José Rico tenha chegado lá em cima cantando uma bem bonita pra pôr de novo aquele sorriso no rosto dele.

19 fevereiro 2015

preta, pretinha



eu estava andando pela rua, sozinha, toda encolhida de frio, pensando na sua pergunta de outro dia: “menina, você não tá sofrendo aí nessa tar de dublin, não?”, quando o assovio da natalia mallo bateu fundo no meu ouvido e me lembrou de um sábado em que eu cheguei em casa às 10h30 da manhã, sem dormir.


fazia um sol lindo, eu estava sorridente, descabelada e com a cara borrada de maquiagem; e pensava em onde é que tava você. liguei o computador pra saber notícias suas e você tinha me mandado essa música. você já estava em casa. bem, sã, salva e linda. a gente tinha se dispersado lá pelas quatro da manhã.


eu pensei agora: que saudades de você, das nossas noites e de tudo que a gente foi. nos encontramos em londres depois de tantos planos sonhados debaixo de sol tropical, tal qual um conto. a gente dançou, riu, e brigou na rua, fez as pazes, receosas; e se despediu. eu tentei ficar ressentida porque na minha volta prai você não fez questão de me ver, mas eu olhei suas fotos do carnaval. eu não consigo me ressentir. você é só amor, não tem jeito.

lembrei da nossa última longa conversa por meio de cabos de fibra óptica e ondas eletromagnéticas, e a gente falava de amor. embora não tenhamos dito, ficou nas entrelinhas esta ideia de que a gente não presta muito pro amor egoísta e romântico. a gente tem um coração arisco, mas nele cabe um mundo inteiro, o que é uma bela contradição. 

nessa toada de saudades, eu entendi que meu amor é todo gasto com meus amigos mais queridos, e fica gravado nesses momentos alegres e sutis que a gente compartilha. meu amor romântico é todo seu, pretinha.

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(e só agora notei que a sua declaração pública de amor por mim acabou de completar um ano).

04 fevereiro 2015

helô



Uma vez eu postei no facebook uma foto minha de quando era criança. Meu irmão, quatro anos mais novo que eu, comentou "que coisa linda". Respondi que eu tinha uma vantagem sobre ele: eu pude vê-lo daquele tamanho, ao vivo e a cores. Ele não pôde me ver. 

Um dia, falei para minha irmã que eu sabia como era minha vida sem ela, mas ela não sabia como era a vida dela sem mim. Foi para reforçar a minha importância na vida dela. O que ela não sabia é que tal constatação na verdade reforça a importância da vida dela na minha. 

Eu sei o que foi minha vida sem ela, e sei o quanto minha vida melhorou depois da chegada daquela menininha de olhos tristes.

Hoje minha mãe mandou pelo whatsapp a foto de uma estrada, vista pela janela do carro. No canto, pude ver o braço do meu pai, e perguntei para onde iam. Ela me contou que estavam indo até Londrina - quilômetros e quilômetros distante da casa deles - para encontrar um lugar para minha irmã morar. Minha mãe me respondeu como quem conta que vai a feira. Eu fiquei em choque, e quis saber onde, quando, como e com quem. Eu quis dar conselhos. Eu, se pudesse, não deixava ir.  

Eu estou orgulhosa. Contei pra todo mundo que minha irmã passou no vestibular. Mas aqui de longe, ando rezando e roendo as unhas. Eu ouvi as primeiras palavras, vi os primeiros passinhos. Dei o primeiro livro, contei histórias, ví os primeiros rabiscos. Sei que fiz um bom trabalho. Vai dar tudo certo, mas é impossível evitar a comoção. 

Minha mãe já conhece essa história. Para mim, ainda é novo. É a primeira vez que minha pequena sai de casa. 

25 janeiro 2015

je suis adele



de março de 2014:

"Existe um termo, não sei em qual língua ou origem - na verdade, estou com preguiça de pesquisar - enfim, o termo é serendipity, que deve ter uma história bem empolgante e pode valer a pena pesquisar, já que ele traduz em apenas uma palavra o conceito de encontrar as coisas sem estar procurando. É algo como a capacidade do encontro, sem que haja a necessidade louca e ansiosa da procura. Ou, em termos bem chulos, estar de bobeira e encontrar do nada uma coisa bem bacana, tipo 'como eu fui viver tanto tempo sem isso'. Mas o termo é ainda mais fascinante porque faz a leitura de que para este encontro acontecer é preciso uma pré-disposição das pessoas, que se manifesta independente da nossa vontade. Tipo encontros inevitáveis. Acho que por isso, por conter um significado tão difuso e belo, que o termo não tem tradução boa para o português, ou se tiver perde a sua força. Assim como a palavra saudade, que dizem, não existe em nenhuma outra língua, a não ser no português"

esse é um trecho de um e-mail que recebi, e este e-mail chegou na minha caixa de entrada no exato momento em que eu pensava em te escrever o que vem a seguir.

ontem assisti "azul é a cor mais quente", e o filme fala sobre relacionamentos e sobre as coisas inevitáveis da vida, como se apaixonar, se envolver ou, eventualmente, sofrer. eu passei a noite pensando em você, e no quanto aquele filme falava sobre mim, em quantas vezes eu chorei as mesmas lágrimas de adele, em quantas vezes eu fui adele e quantas vezes não quis mais ser e em como estou aqui, novamente (e felizmente) sendo, mas desta vez vivendo a parte feliz e acreditando que ela pode durar para sempre. 

hoje apareceu aqui um texto que você curtiu ou comentou, algo assim, sobre a busca pela felicidade, e eu voltei a pensar nisto tudo que tenho vivido. eu fiz algo que, de longe, parecia grandioso. deixei emprego pra lá e vim morar no lado de cá por um tempo. agora, tudo parece bastante claro. eu sou feliz quando acordo às 7h da manhã no sítio, aí no interior do estado de São Paulo, e tomo café. sou feliz quando estou deitada no sofá e o gato vem deitar no meu colo. e sou feliz quando ouço uma música deitada ao seu lado num dia quente de verão. por aqui as coisas são boas, mas eu entendi que felicidade não mora em grandes atos. eu já desconfiava, agora ficou claro. 

então, já no fim do texto, apareceu isto aqui: "Se a felicidade se tornar o grande objetivo a ser alcançado em sua vida, então ela será para você um verdadeiro pesadelo. Mas quando, para você, a felicidade está nas pequenas coisas, na forma pela qual você as vive (…) sua casa torna-se um templo, seu corpo se torna a morada de Deus, e, para onde quer que você olhe e qualquer coisa que você toque, se torna imensamente bela, sagrada – então, a felicidade é liberdade". 

serendipity é isso tudo que aconteceu hoje, esses mil encontros e coisas fazendo sentido e completando o que eu queria te dizer. 

estava olhando o passado nos e-mails e me deparei com este aqui. achei que valia guardar.